quinta-feira, 10 de maio de 2012

EM PLENA SELVA

FOLHETIM Por: DORIVAL COLOMBERO

EM PLENA SELVA

I –           De suas andanças pelo mundo, o Jornalista Celso Vieira, ao pretender assistir ao filme “Xingu”, em exibição nos cinemas da Cidade, lembrou-se de que ele próprio já havia ido ao Alto do Xingu, por ocasião de umas “férias” usufruídas enquanto trabalhava na sede paulistana da Aeronáutica, durante o regime militar do governo da União. Em companhia de outros colegas de profissão, passara por vários dias em plena selva amazônica, convivendo com habitantes de uma tribo sediada nas proximidades da base onde se alojara, administrada por Major  da Aeronáutica. Participando de várias incursões selva a dentro, Celso, obviamente, andava armado, tanto quanto seus companheiros e demais militares.
                Numa dessas caminhadas, desta vez por uma das trilhas feitas pelos habitantes locais, em companhia de Cara Preta, o Índio que servia de guia para todos os visitantes, Celso parou para admirar o gigantismo de uma arvore, quando avistou, em meio a frondosa copa, um grande e belo pássaro. Imediatamente, ajustou o rifle em posição de disparo a fim de atingir aquela ave pousada num dos galhos da majestosa árvore.
                Na iminência de disparar, sentiu a mão de Cara Preta sobre o seu ombro. O índio, em voz mansa e firme perguntou-lhe: - “Vai comer?”. Celso respondeu – “Não, claro...” Ao que o guia emendou: - “Se não vai comer, não mata ela, seu Celso...”
II-           Na véspera de voltar para São Paulo, o jornalista foi abordado por um índio da aldeia vizinha a base que lhe pediu a camisa vermelha que no momento esta usando. Sabendo que aquele dia era o dos presentes dos visitantes  aos selvícolas, Celso não se fez de rogado e ali mesmo despiu a camisa dando-a ao selvagem que nada disse em agradecimento. Naquela noite, estando todos no alojamento, em meio a uma concorrida partida de pôquer, aquele mesmo índio, burlando a severa vigilância do acampamento, adentrou no galpão e acercou-se de Celso. Estendendo com firmeza a mão, entregou-lhe um anel de osso, feito por ele, de presente, como retribuição à bela camisa que havia ganho horas antes...
III-          Decorridas algumas semanas de haver retornado à rotina de seu trabalho em São Paulo, Celso foi convidado para um almoço na residência do Major, o mesmo que administrava a base na selva onde havia passado suas férias. Ao ser recepcionado na sala de visitas do militar, o jornalista pode admirar, artisticamente montada na parede central do aposento, a grande e belíssima pele da enorme onça que o próprio militar havia baleado, durante uma incursão em companhia do grupo de jornalistas ao longo do rio Xingu a bordo de uma barcaça de metal. Na ocasião, todos assistiram quando a onça, parada na borda do rio, voltou a cabeça em direção ao ruído do motor da embarcação, no exato instante em que o Major disparou com precisão milimétrica, atingindo o animal bem entre os olhos... Somente no dia seguinte o guia Cara Preta mergulhou nas águas do Xingu içando o corpo do animal abatido e entregando-o ao comandante da base.

Um comentário:

  1. Sr. Celso,
    Obrigado por nos brindar com este blog, histórias memoráveis de suas experiências nessa vida. De fato elas deveriam ficar registradas.
    Já sou fã destas publicações.
    Grande abraço
    Renê Gallep - Sorocaba/SP

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